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CAROLINA VELASQUEZ

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A partir de pesquisas sobre os idiomas simbólicos das matrizes africanas e indígenas, são realizadas performances que trazem rituais ao público. Surgem performances coletivas chamadas de Performances Fabulosas

CONGRESSO SESC VILA MARIANA

Registro de Performance

por Luiz Costa

   

Relato de Performance

 

Na Performance Fabulosa realizada no Congresso de ensino e aprendizagem das artes na América latina: colonialismo e questões de gênero, em 24 de abril de 2019, na unidade do Sesc Vila Mariana, temos o seguinte relato escrito pela autora que desenvolve o papel de Fabuloso narrador durante a performance: Um ogã, músico percussionista conhecedor dos toques e cantos utilizados em realizações de rituais dentro da religião do Candomblé, canta uma cantiga para o orixá Exu, primordialmente conhecido dentro das religiões do continente africano por abrir os caminhos, pois é o elo entre os dois mundos: físico e espiritual.

    Três performers mascaradas e com suas vestimentas compostas por cores fortes, tecidos brilhantes e máscaras, representando animais como o Jaguar e o antílope, descem pela rampa principal da instituição cultural; descem com seus corpos tomados pela música, pelas máscaras, pela influência das vestimentas e das possibilidades que estas exigem sobre seus corpos. Um dos performers carrega uma bandeira, denominada pela língua indígena andina quéchua como Wiphala. A bandeira, composta por quadrados coloridos, é um símbolo dos povos originários andinos. Ao final da rampa, as performers atravessam uma densa fumaça de cor violeta que anuncia visualmente o início.

    No espaço abaixo da rampa existe um chão plano, liso e aberto de grande dimensão, destinado a ser lugar de passagem e encontro no cotidiano da comunidade que frequenta o local, que agora torna-se lugar de apresentação daqueles seres que dançam, corpo-espírito dado pela artista ao corpo que é tomado por gestos e movimentos além do corpo-cotidiano.

     As vestimentas também dançam, uma delas tem as dimensões compridas, é composta por diversos tipos de tecidos, pesados e leves, e quando uma performer gira seu corpo, toda a vestimenta gira triplicando o tamanho de seu corpo e, por um breve momento, não sabemos se o que o move é uma pessoa ou uma grande ventania. Outra performer corre sem medida içando a bandeira Wiphala; esta demarca o espaço ocupado pelo evento e é passada por cima do público, que nesse momento ainda é passivo, espectador que observa e frui dos gestos e materiais, de forma espantada, dos seres que ali se apresentam. Outro performer, que agora é um Fabuloso, joga-se frente aos três ogãs que tocam e cantam em seus atabaques. A dança do Fabuloso torna-se o gesto corporal de se ajoelhar frente ao altar, como em alguns rituais, onde os participantes agradecem aos deuses pelas graças recebidas. 

     Os Fabulosos cessam sua dança e os participantes são levados a adentrar um outro espaço com uma instalação, termo utilizado como linguagem nas artes visuais, montada com o fim de ser um altar. O altar é composto de tecidos coloridos, os aguayos - tecidos confeccionados por comunidades da América Latina que contém simbologias e cores típicas da região, considerados segredos guardados entre gerações contra os apagamentos culturais causados pelas ações da presença de outros povos colonizadores, e sementes e grãos típicos andinos, como milhos de diferentes cores, favas e batatas de diferentes tipos, com símbolos em argila e pequenos bonecos, representações de habitantes dos Andes. Os participantes que observam ainda receosos têm em suas mãos velas que são acendidas por Fabulosos que passeiam entre o público. 

    O narrador agora os convida a realizar um pago, segundo ele uma celebração andina chamada La Koa, que envolve um altar e pequenos embrulhos contendo flores e sementes e grãos que serão destinados à deusa Pachamama, mãe terra, em uma ação coletiva; os agora participantes investigam o que antes era algo a se observar, escolhem os elementos dispostos no altar e os colocam em pedaços de papel, os embrulham e guardam consigo.
    Para oferecer o pago à Pachamama é necessário virar vento, diz um Fabuloso, fechar os olhos e deixar que um vento colorido pouse em suas cabeças; essas são as instruções corporais. As pessoas são incentivadas pelos corpos dos performers que giram, correm ou dão pequenos saltos, dando instruções corporais aos presentes que em um primeiro momento, ainda no processo de descondicionamento de seus corpos, ficam a refletir sobre como agir e depois passam a recriar e soltar seus movimentos, em si e em relação ao espaço que têm à sua disposição.

      Todos são convidados a vestir os Fabulosos, somente um por pessoa, aquele que os atraiu mais, ainda que não saibam o porquê. Os músicos tocam em ritmo cada vez mais forte e as pessoas se entregam a um transe, uma suspensão do tempo como é conhecido. Neste momento, surgem movimentos inesperados e inspirados nas vestimentas e em suas representações, ocorre o ápice onde ninguém mais observa o outro, e tem início uma conversa corporal do participante consigo mesmo. Bombas de fumaça coloridas levam os agradecimentos materializados nos pagos aos céus, as pessoas mais uma vez participam de uma celebração coletiva há muito realizada, em tempos remotos; elevam seus pequenos embrulhos e pensam em pelo que são gratas. Fim do ritual - performance com muito suor, sorrisos e abraços de agradecimento.

 

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